Ressignificação na Arquitetura
- Ariela Souza Brito
- 29 de mai. de 2017
- 2 min de leitura

O Programa de Jovens Arquitetos (The Young Architects Program), fundado pelo MoMA e MoMA PS1, trata-se de uma competição que visa oportunizar jovens talentos a projetar inovadoras instalações temporárias. Em 2014, o MMCA (Korea's National Museum of Modern and Contemporary Art) locado em Seul- KR, ingressou ao programa. Vencedor de 2016 em Seul, intitulado Temp'L, um pavilhão que aborda questões ligadas a arquitetura e seus impactos na história.
O escritório Shinslab Architecture responsável pelo projeto, afirma que a estrutura "Provoca o pensamento sobre a beleza em nosso tempo, vindo de um passado recente". Com exterior rústico competente ao desgaste natural do metal, interior que remete leveza com uso de cores claras e grande presença de vegetação, o Temp'L foi projetado com intuito de comover quem utiliza seu espaço e instigar um maior número de pessoas a ter interesse em acessar o museu que o aloja.

O projeto nasce da reutilização da estrutura de um antigo barco, com o corte das peças e as devidas adequações estruturais para sustentação. Assim como famosas obras de Duchamp e Oldemburg, o pavilhão busca ressignificação de um objeto conhecido e sugere um questionamento a produção de arte. Em sua icônica obra "A Fonte" Duchamp demonstrou que um objeto já existente depende do meio em que está inserido para adequar-se a um sentido. Quando o artista apropria-se de um objeto já existente e reloca este para um outro meio o conceito que temos sobre o objeto também pode ser alterado. Segundo o pensamento de Duchamp pode-se caracterizar o artista como um ponto de transição entre o que é arte e o não é. Neste mesmo sentido, o pavilhão em Seul traz a tona o questionamentos em relação ao que seria arquitetura no momento histórico-social em que vivemos.

A obra conduz o ocupante, por meio de elegantes contrastes, a pensar em questões da arquitetura atual. Com a utilização de materiais de descarte para gerar arquitetura de qualidade permite o ocupante refletir a necessidade de pensamentos sustentáveis na contemporaneidade. Além disso, reflete a adaptação da história para a geração de uma nova em um diferente contexto, demonstrando a ressignificação baseada no antigo. O uso do passado para criar o novo, de forma a declarar a mudança consciente frente as ágeis mudanças da contemporaneidade.
As distintas características que permeiam o projeto revigoram a beleza do espaço. Não somente a comparação entre o desgaste externo e a clareza interna do próprio pavilhão mas também o meio o qual está locado. Inserido em um local que apresenta obra de técnicas tradicionais da Coréia, o pavilhão destaca-se por sua singularidade e ao mesmo tempo complementa o ambiente sem interferir a visualização da arquitetura tradicional.
Ao longo da história arquitetônica pode-se notar que todo objeto cultural segue risco de perder significância. O arquiteto Cyro Corrêa Lyra afirma que o espaço tende a resistir mais ao tempo quando ocupado, mesmo acontecendo modificações desde a edificação original. Para Lyra, a arquitetura é de cunho utilitário e sobrevive da ocupação das pessoas. Portanto, seguindo esse pensamento, a ressignificação presente no Temp'L permite a resistência da história e traduz para a arquitetura atual que a adaptação da cultura reflete a permanecia desta na história, tornando ela necessária.
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