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Marcelo Piacentini no Brasil

  • Prof° Rafael Rodrigues de Moraes
  • 24 de abr. de 2017
  • 5 min de leitura

Em 1935, Gustavo Capanema, ministro da Educação e Saúde do “Governo Provisório” de Getúlio Vargas (1930-45), convida via telex o arquiteto italiano Marcello Piacenini a vir ao Brasil e realizar um projeto de um núcleo universitário, similar ao plano universitário de Roma. O convite e sua vinda foi duramente criticado pelo Syndicato Nacional de Engenheiros que alegava existir no Brasil profissionais nacionais competentes para realizar o mesmo serviço, enquanto que o Club de Engenheiros e a imprensa congratulam a escolha de Capanema, como nos demostra TONHÃO (1993).


Mais que uma “briga” de competências profissionais, esta discussão esconde ainda duas: a primeira obviamente política pois Vargas, líder da revolução de 30, tem forte inspiração fascista enquanto que Piacentini ficou conhecido como arquiteto do regime fascista, pela história; a segunda, discutida de forma menos abrangente mas não menos importante, se a arquitetura modernista brasileira deveria seguir os preceitos do modernismo do racionalismo francês e lecorbusiano, sem ornamentações, ou se deveria seguir o modernismo construído sobre preceitos do racionalismo italiano, sob forte influência historicista da arte clássica. Piacentini, embora hoje considerado um pouco mais rebuscado que o colega francês, pregava também o modernismo e, como professor e profissional premiado em seu país foi referência a gerações. Influenciou arquitetos como o brasileiro Rino Levi e o ucraniano Gregori Warchavchik, que foram seus alunos e, enquanto Levi foi seu estagiário, Warchavchik trabalhou para ele nos primeiros anos de formado. Sobre Piacentini, Levi escreveu: “ele era um espirito adiantado. Gozava de simpatia dos estudantes mais irrequietos, que propugnavam por uma reformulação da arquitetura”. Como docente Piacentini demostrava os exemplos de Poeltizing, Mies, Gropius, Neutra, Le Corbusier, etc...



A discussão da época pode ser acompanhado pelos artigos do Jornal Correio da Manhã, que publica diversas publicações sobre a vinda do arquiteto, relacionadas a seguir:

  1. O artigo do Jornal Correio da Manhã, de 27 de julho de 1935, defende seu modernismo, mesmo afastado do “futurismo”, do “dadismo” e do “cubismo”, caracterizando-o como arquiteto de “renome universal” e um “homem do seu tempo”, afirmando que “os reclamantes exageram no caso”, assinado por M. Paulo Filho.


  1. O Instituto Central de Arquitetos critica a vinda de Piacentini em matéria do dia 27 de julho de 1935, assinada pelo seu então presidente Augusto de Vascocellos Junior, mas foi aplaudida em outra matéria, do dia 2 de agosto do mesmo ano, intitulada: “instituto Central de Architectos e a Cidade Universitária – aplaudido o convite ao architectoPiacentini para realizar o plano”, escrita pelo mesmo Augusto de Vasconcellos Junior. A mudança descrita no mesmo artigo, cita reunião entre o presidente do Instituto Central de Arquitetos e Capanema, no dia anterior, onde foi afastada qualquer hipótese de se realizar um concurso público, como demonstram os regimentos internos do Instituto desde sua fundação em 1921 e em “troca” o governo enviaria alguns dos arquitetos brasileiros à europa: “afastada, pois, a hypothese do concurso, o nosso conselho directos examinou a possibilidade do governo mandar À Europa, por um anno, alguns dos nossos melhores architectos”. Embora a decisão do Instituto aparenta ser uma barganha entre os arquitetos brasileiros e Capanema, o artigo ainda cita Piacetini como um profissional de “altos predicados para o bom desempenho dessa missão”.


  1. Em 17 de agosto do mesmo ano, nova matéria informa que a o local do Projeto ainda não foi escolhido, mesmo que Piacentinni e Capanema, junto com professores da Universidade do Rio de Janeiro tenham incansavelmente percorrido a cidade: “já percorreram nessas últimas 48 horas, a praia Vermelha, o Leblon, Maguinhos e Mangueira, a grande planície do antigo Derby Club e a Quinta da Boa vista”. Em 24 de agosto o Arquiteto italiano retorna à sua pátria.


  1. Em 1 de novembro de 1935 a cidade universitária de Roma é inaugurada e o correio da Manhã o descreve com o adjetivo “ultra-moderno”.


  1. Em 1 de abril há um artigo criticando a escolha do terreno entre a estação da Mangueira e o Antigo Jockey Club, em local com muitas linhas férreas, onerando sua execução. Seu local foi considerado como uma das mais infelizes, por Piacentinni, embora a tenha endossado. Piacentini teve que escolher entre 3 lugares indicados por comissão técnica brasileira e, segundo este artigo, escolheu a “menos ruim”.


  1. Em 26 de maço de 1938 surge a notícia que o anteprojeto será entregue e que há verba para a execução.


Foram aproximadamente 11 dias da visita do arquiteto italiano, de 13 a 24 de agosto de 1935. Neste curto tempo é contratado para construir (e re-projetar) o Edifício Conde Matarazzo, constituindo a “maior obra construída de Piacentini fora da Itália” sendo o principal antagonista do discurso de modernidade com seus ex-alunos famosos: “Warchavchik e Rino Levi, sob o tema do edifício alto”, conforme mestrado de Marcos Tonhão. O mesmo autor discorre e alcunha o termo “linguagem piacentiniana”, por seguidores em São Paulo. (TONHÃO, 1993, p. 17-18)


Após sua estadia, em julho de 1936, Le Corbusier em visita ao Brasil por conta do projeto do Ministério da Educação e Saúde, apresenta um projeto para a Cidade Universitária do Rio de janeiro, em versão antagônica ao de Piacentini. Embora defendido por Lucio Costa e demais arquitetos brasileiros, este projeto é recusado pela comissão técnica brasileira, composta de professores da universidade do Rio de janeiro. A discussão entre estilos segue entre arquitetos Brasileiros e, após a entrega do projeto, a discussão muda o foco para a questão urbanística e a escolha do terreno, todos com problemas técnicos para implantação, perdurando a discussão entre 1939-41, mudando seu local várias vezes, até ser definitivamente abandonado em 1943. (TONHÃO, 1993)


Piacentini, que seria o responsável pela execução da Obra do Ministério da Educação e Saúde, teria dito a Gustavo Capanema, sobre o projeto vencedor do concurso público: “Eu não o faria. O senhor tem toda a razão. Isso não serve, definitivamente. Eu lhe dou o conselho de não o fazer", sendo um dos responsáveis para a escolha de Capanema em constituir a comissão de jovens arquitetos brasileiros Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconsellos, Carlos Leão, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer; que escolheram le Corbusier como mentor. E Por pouco a história da arquitetura brasileira não foi outra.


No brasil, entre 1939-41 Marcello Piacentinni se preocupa com as intervenções, reformas e ampliações da Villa Matarazzo; entre 1946-48 com a Universidade Commercial Conde Francisco Matarazzo; Entre 1947-48 com o Edifício de Escritórios na praça da misericórdia em São Paulo.


Anos mais tarde a arquitetura Racionalista Italiana influenciaria os caminhos e as cabeças dos Neo-racionalistas pós-modernos. Talvez Levi estivesse realmente certo ao dizer que Piacentini era um espírito adiantado.


Fontes:

Marcello Piacentini : arquitetura no Brasil

http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000069814


XAVIER, Alberto (Org.). Depoimento de uma geração. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo, Associção Brasileira de Ensino de Arquitetura, Fundação Vilanova Artigas, Pini, 1987.

http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=594


Artigos do Jornal Correio da Manhã – Rio de janeiro:

http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_04&pasta=ano%20193&pesq=Marcello%20Piacentini


Cidade Universitária na Quinta

http://www.rioquepassou.com.br/2009/12/14/cidade-universitaria-na-quinta/#


 
 
 

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