Moldura
- Emily T. Kayukawa
- 1 de mai. de 2017
- 3 min de leitura
A arquitetura recria a nossa percepção espacial, e muitas vezes pode induzir respostas hormonais gerando-nos sensações ruins ou boas. Nesse meio a monotonia pode se enraizar em percepções que parecem nunca mudar, se aliando a outras sensações desanimadoras em dias difíceis. A obra The Color Inside de Overland Partners e do artista plástico James Turrel, que projeta os Skyspaces, está localizada na Universidade de Texas em Austin, EUA, foi concluída em 2013 e nasceu das ideias do corpo estudantil, que inclusive teve grande participação no projeto que buscava um espaço para refugiar suas mentes. Mas o que conseguiram foi além, mais do que um edifício não monótono, o The Color Inside explora na meditação oriental, a simplicidade, que por sua vez é encontrada no branco, na forma elipsoidal e em dois elementos que estiveram sempre presentes em nossa existência, o céu e a luz.
Como o céu e a luz podem ser o foco da admiração de uma obra, se os vemos todos os dias? É nesse momento que a arquitetura do The Color Inside recria a percepção de quem o visita. Ele emoldura o céu e o aproxima do expectador, altera a significância do espaço através de sua forma elipsoidal lisa e branca, um óculo, e sancas sutis iluminadas por LEDs que mudam de cor para contrastar com as diferentes cores que o céu assume durante o dia.
Esse edifício é muito visitado, nele acontecem eventos sócio-culturais durante o dia e tem capacidade para 25 espectadores por vez.
Edificá-lo só foi possível seguindo rigorosamente decisões técnicas, como por exemplo, na estrutura para se manter elíptica foram utilizadas uma malha metálica não tradicional ligadas nas hastes curvas em sua cobertura e vigas metálicas de aproximadamente 20 cm em baixo, como baldrames, pois seu peso não permitiu que fosse implantado diretamente na cobertura do Campus.
Sem contar que para tornar o efeito do volume branco e liso possível todo o acabamento foi feito em gesso, material permeável, inclusive na cobertura. Isso foi resolvido com a mesma técnica utilizada com cobertura de metal, vedando com uma manta impermeabilizadora abaixo da camada de revestimento.
Levando em conta que o gesso precisa de espaço para trabalhar normalmente usa-se juntas de dilatação, mas no caso do “Skyspace” as paredes precisavam ser lisas e curvas. Então, foi utilizado um revestimento elastotérmico, tanto interno quanto externamente, que consegue trabalhar em até lacunas de 2,5 cm.
É um espaço fechado e com uma abertura para o céu, o que desafia o controle da água e umidade interna. Foram tomadas medidas de monitoramento para garantir que a pressão diferente entre os ares de fora e de dentro não formem condensação de gotículas de água. Os bancos, pisos e a abertura de luz foram tratadas com inclinação e impermeabilização utilizada normalmente em coberturas.
Atualmente existem vários “Skyspaces”, essas obras recebem manutenção regularmente justamente por terem caráter artístico, mas também por isso, apenas 12 de 80 dos “Skyspaces" construídos, são públicos.
Cumprindo a sua função, The Color Inside permite acesso de estudantes para experiências contemplativas e de meditação, através de um conceito muito forte, porém simples. A ressignificância que a obra atribui à luz e ao céu causa diversas reflexões sobre a vida de cada um. Justo com esses elementos que poderiam se tornar monótonos por sua constância no nosso cotidiano, viram a atração principal emoldurada e valorizada pela arquitetura.
Referências:
http://turrell.utexas.edu/
http://www.archdaily.com.br/br/761704/the-color-inside-overland-partners-plus-james-turrell-skyspace
https://vimeo.com/83774868
Comments