Trip-Box: Epifania materializada
- Paulo Vanzo
- 14 de abr. de 2017
- 3 min de leitura
A própria definição de arquitetura incorpora como característica, a busca pela expressão dos sentimentos humanos, suas complexidades, suas nuances e, sobretudo, seu incessante esforço para atingir a singularidade. Em sua obra, Bruno Zevi declara essa busca como um traço básico de produção arquitetônica, distinguindo-a de outras expressões“... por incluírem não só aquilo que são a coletividade e o indivíduo, mas também o que querem ser, o mundo dos seus sonhos, dos seus mitos sociais, das aspirações e das crenças religiosas.”
O arquiteto Christophe Benichou parece tentar atender a esses prescritos quando analisada a sua obra – ainda virtual – batizada, pelo próprio autor do projeto, de Trip Box. O projeto foi concebido como uma espécie de presente para um amigo do próprio arquiteto, que na época estava passando por problemas psicológicos e crises de identidade. Apesar de esse episódio parecer dramático, o significado implícito nessa textualização figurativa é muito mais abrangente e retrata um pouco das adversidades enfrentadas pela psique humana durante a vida de quase todos os indivíduos.
Através da recriação de um momento arriscado, procura forçar a sensação de insegurança, estimulando o espectador a remoer experiências comumente vivenciadas. Benichou incita, através dessa experiência física,uma reflexão sobre a instabilidade confusa – inegável a todo ser pensante – que aflige a mente humana em determinados momentos.
Contudo, é quase inegável, todos já passamos por momentos de ineloquencia. No decorrer de nossa vida, há momentos que nos sentimos prestes a chegar ao nosso ponto de inflexão. Ao menos por alguns poucos segundos, todos já nos sentimos muito próximos da insanidade. Se acaso isso já tenha lhe ocorrido, saiba que não há motivos para preocupação. As reflexões existenciais, descritos pelo arquiteto através do projeto, são contrariedades presentes na continua formação pessoal de qualquer individuo, e só podem ser realmente compreendidos por quem os vivencia. Sobre isso, Nietzsche certa vez disse: “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”. Por tanto, não há reais motivos para qualquer temor.
Todos esses sentimentos descritos, assim como os status reflexivos momentâneos, fazem parte da representação romântica, feita por Benichou, que constitui a substância elementar do projeto. Para atingir tal representatividade, foram adotadas, de certa forma, posturas desconstruitivistas.

O espaço projetado possui uma composição relativamente simples. Usa de um volume cúbico puro e direto, constituindo uma figura sólida, para em seguida desprende-la de do chão e inclinar-la em direção ao fundo do penhasco; fazendo com que a comunicação proposta pelo arquiteto seja quase que imediata. Com o intuito de alcançar uma clara concepção dialogal, a proposta arquitetônica propõe uma estrutura de sustentação em concreto comum, apoiada no alto na parte mais alta do Pic-Saint-Loup, onde estão instalados os acessos e assentos para acomodação dos visitantes. O esteio de concreto possibilita o advento da caixa cúbica de aço corten, que por sua vez forma um invólucro visualmente permeável – efeito que se faz possível graças às faces compostas de placas de aço perfuradas – que se desloca do eixo formado por sua estrutura, fazendo com que sua face principal esteja direcionada para o enorme espaço vazio, proporcionando aos espectadores que visitam as montanhas de Montpellier e usam do mirante, além da vista natural, a sensação vertiginosa produzida pelo momento da queda.

A concepção básica do projeto, apesar de aparentemente se apoiar em um diálogo triste, que por vezes parece flertar com a imagem do suicídio; na realidade, não possui como substancia, um objeto de caráter tão bucólico. Trata-se, na verdade, de uma representação da complexidade humana, da diversidade de sentimentos que cabem em uma só existência. Usando de uma cena, da exposição de um momento, para retratar o instante de reflexão em que olhamos para baixo, vemos o fundo do penhasco, mas, em seguida, olhamos o horizonte e decidimos seguir em frente.
Fonte: www.archdaily.com.br
www.christophebenichou.com/
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