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Segurança através da Arquitetura e Urbanismo

  • Kelly I. Schuelter
  • 15 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura

A insegurança e a grande taxa de criminalidade no cotidiano do Brasil podem ser resultadas de diferentes causas, como questões sociais, educação, desemprego e entre outros. O que será discutido a seguir, é como o meio urbano, mais especificamente, o seu desenho e preservação, pode influenciar na redução de criminalidade do local, uma vez que, segundo Amaro (2006) “O próprio desenho e efetivo uso da arquitetura do ambiente pode conduzir a uma redução do medo do crime e da sua incidência, bem como a uma melhoria da qualidade de vida.” Segundo o Índice de Progresso Social – IPS – de 2014, indicador social que classifica o desenvolvimento social e ambiental de mais de 133 países, o Brasil se encontrava na posição de 11º, como um dos países com uma das maiores taxas de insegurança do mundo, possuindo uma pontuação de 37,50 pontos, de um total de 100. Fato este, que tem proporcionado ao país um menor desempenho em qualidade de vida da população.


Jane Jacobs (2011) foi uma das pioneiras no assunto de como o ambiente pode influenciar na segurança do indivíduo, a prevenção do local, assim como a sua visibilidade, pode influenciar no comportamento do homem. A partir dessa proposição, um espaço urbano adequado, deve providenciar características que transmitem segurança para a população, sendo um ambiente aberto, com barreiras visuais escassas e uma boa iluminação, permitindo que o mesmo, tenha uma visibilidade adequada, dificultando atividades ilícitas no meio, uma vez que o espaço não possua trechos isolados que permitem tais atividades, tendo uma maior quantidade de pessoas vigiando-o, o que a autora, Jane Jacobs, nomeia de “olhos da rua”.

Além dessa estratégia defendida por Jacobs, outros teóricos, como Cozens, Saville e Hillier (2005), acreditam que para redução da criminalidade através do desenho urbano, são necessários seis pontos de prevenção ambiental: territorialidade, vigilância, controle de acesso, proteção de alvos, imagem/manutenção e atividade.


A territorialidade consiste em existir um espaço que possua características de acordo com a sua função, sendo dessa forma, um ponto atrativo para a sociedade. Em seguida, a população deve compreender o espaço como um pertence, ou seja, os próprios moradores da região identificam o local como sendo deles, desse modo, cuidam e asseguram em sua preservação e proteção. O segundo item deve ser a vigilância, que defende o mesmo princípio de Jacobs, uma vez que o indivíduo deve se sentir vigiado em determinado local, inibindo atitudes inadequadas. Já o controle de acesso, propõe a aplicação de barreiras no espaço, quando este for necessário e viável, podendo assim, controlar o acesso do local. O item de proteção de alvos, defende a aplicação de elementos de segurança urbano, como câmeras e alarmes, inibindo atitudes criminosas. Entretanto, esses dois últimos pontos causam controvérsias na concepção do urbanismo atual, uma vez que as aplicações dos mesmos podem gerar a sensação de um ambiente privado, tirando a liberdade do local. Outro ponto importante, é a imagem do ambiente, acredita-se que um espaço devidamente preservado e com manutenção constante, possa gerar a ideia de segurança e um conforto social, consequentemente uma redução na criminalidade do local. Por último, a estratégia de atividade, defende a variação do desenho urbano do local, podendo ter uma diversidade de atividades e setores no mesmo ambiente, fortalecendo a ideia de vigilância do bairro.


A cidade de Medellín na Colômbia, faz o uso dessas estratégias, local que já conquistou o título de cidade mais violenta e desigual do mundo, onde sofreu diversas disputas sociais e políticas, hoje é considerada uma das cidades mais inovadoras devido as estratégias urbanas e políticas aplicadas na cidade, tendo como filosofia “o melhor para os mais pobres” e “Medellín, a mais educada”, a cidade recebeu o título de “Cidade do ano de 2014” pelo The Wall Street Journal e o Citigroup (2014).


Foram elaboradas diversas estratégias para a integração das favelas com a cidade, além de projetos voltado para o transporte, como a aplicação de ciclofaixas, um metrô elevado e escadas rolantes aplicadas em trechos das comunidades consideradas de baixa renda. Foram realizados, também, diversos projetos arquitetônicos de bibliotecas parque executadas pelos arquitetos Giancarlo Mazzanti e Javier Veras, e a revitalização do rio Medellín, realizada pela EDU – Empresa de Desenvolvimento Urbano, que também realizou as modificações e a aplicação do POT – Plano de Ordenamento Territorial, pode ser considerado uma das principais revitalizações do processo, que consiste na criação de um parque linear que integra a cidade, desenvolvida ao seu redor, com o próprio rio.

Medellín faz o uso de diversas estratégias da Arquitetura Contra o Crime - defendida por teóricos citados a cima – como espaços amplos dando uma prioridade para os pedestres e possibilitando a passagem de ciclistas, além de incentivar o uso de bicicletas. Os ambientes são abertos sem possuir elementos que dificultam a visibilidade do local, para os que estão usando o mesmo e para quem está de passagem pela região, utilizando-se dos “olhos da rua” defendida por Jane Jacobs. Além da preservação do ambiente, com a utilização de um paisagismo conservado e com manutenção constantes, podendo ser identificados diversas estratégias dos teóricos Cozens, Saville e Hillier, como por exemplo, territorialidade, vigilância, imagem/manutenção e atividade.

Além de Medellín, outros locais como o Chile e a Inglaterra, realizaram diversas revitalizações com o objetivo do aumento da segurança da sociedade, reduzindo uma taxa significativa de criminalidade do espaço em questão. Comprovando dessa forma, a teoria de Hipólito (2012), que acredita que para a realização de um crime, deve haver três características, sendo essas: um infrator, um alvo vulnerável e um ambiente que favoreça as condições para que o crime ocorra. O Chile, foi um dos países que aplicaram as teorias de Arquitetura Contra o Crime, alcançando resultados positivos, principalmente em sua capital, Santiago. De acordo com levantamentos aplicados no local, Amaro (2006) relata que na Estação Central, um dos espaços em Santiago, que sofreu modificações para o aumento da segurança, alcançou uma redução na criminalidade de quase 20%, uma vez que, antes da revitalização do ambiente, ocorria uma taxa de delitos de 450 por mês, e após as aplicações dos métodos de segurança, os delitos passaram a ser de 87 casos ao mês.


Em virtude disso, os projetos que são realizados em espaços urbanos e a própria arquitetura que se produz atualmente, deve levar em consideração a importância do meio no cotidiano da sociedade, uma vez que certas decisões projetuais podem influenciar as atitudes da população, sejam essas boas ou ruins. É necessário proporcionar que a Arquitetura e o Urbanismo, colabore diretamente em uma sociedade com uma maior harmonia, e consequentemente, em uma melhor qualidade de vida. Segundo Coulquhoun (2004), “[...] países onde o desenvolvimento do tema - crime e arquitetura - já está bastante avançado, como a Inglaterra, este já tem uma abrangência que transcendeu a aspectos apenas de arquitetura, passando para o design, o desenho, no sentido de projetos contra o crime [...]”.


Referências:

TEIXEIRA, Vanessa. O espeço urbano como um dos fatores de favorecimento para a delinquência. Revista Científica do Departamento de Ciências Jurídicas, Políticas e Gerenciais do Uni-BH. Belo Horizonte, 2010.

EVANGELISTA, Felipe. A criminalidade e o planejamento ambiental urbano. Veredas do Direito. Belo Horizonte, 2012.

NETO, Joaquim; VIEIRA, Thiago. A estratégia de prevenção do crime através do desenho urbano. Revista Ordem Pública e Defesa Social. 2014.


 
 
 

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