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O vazio que preenche os sentidos

  • Rosa Mariana T. Cardoso
  • 7 de abr. de 2017
  • 2 min de leitura

A grande questão deste projeto é como sua simplicidade, ou melhor, sua carência de elementos visuais é capaz de trazer sensações à tona. A capela de San Bernardo localiza-se nas planícies dos pampas, ao leste da província de Córdoba, na Argentina. Projetada pelo arquiteto Nicolás Campodonico, em 2015, esta capela apresenta volumetria simples – mas nunca simplória – desprovida de ornamentação e planta baixa elaborada, em composição diferenciada da tipologia comum de capelas.

Foto: Nicolás Campodonico

Além disso, não tem qualquer ligação com as necessidades básicas do homem como energia elétrica, água corrente ou qualquer tipo de serviço; o que a faz parecer desprendida daquilo que o homem julga necessário para si, em busca da essência do que seria necessário para Deus. Neste momento a matéria não é mais importante e a busca pelo incomensurável, como definiria Kahn, se faz necessário.


É importante citar também que a integração de seu volume com o entorno é harmônica mas não necessariamente invisível. O tijolo de barro é usado como material primordial, já que este era de uso antigo de outras construções que existiam no local antes da construção da capela, e este é o material mais antigo confeccionado pelo ser humano, como é o exemplo das construções mesopotâmicas, os Zigurates.


Nicolás Campodonico

A obra busca no contextualismo a sua relação de discursão da forma: através da geometria pura discorre no espaço bruto, entre prisma e a natureza. Mas é no seu material de construção que busca o diálogo com regionalismo.


Temos então a percepção de uma linha de pensamento onde o homem veio do barro.


Há uma proximidade entre homem e arquitetura, estando indiretamente ligados, na qual a sua forma interna côncava reforça o acolhimento que temos em mente de espaço sagrado, onde Deus é a forma perfeita, curva, e nela podemos correr os olhos sem linhas interruptas do quadrado Acho que seria interessante deixar essa palavra em aspas, mesmo que não tenha citação de algum autor. geométrico, demonstrando que os pensamento devem ser fluidos e sem interrupções enquanto se está conectado ao sagrado. Novamente, como nas catedrais antigas, o templo representa o corpo humano e as formas geométricas remetem a Deus.


Nicolás Campodonico

A cruz de sombra refletida na parede da capela ao entardecer, nos faz colocar em questão do porquê ela não ser materializada. De acordo com o arquiteto, seu objetivo foi criar uma cruz ritual, onde a paixão de Cristo volta a ocorrer cada dia a partir do sol, comprometendo uma dimensão cósmica. Deste feito podemos acrescentar um encontro entre dois elementos, que quando notados juntos automaticamente nos conectam ao sagrado. A junção da forma/sombra cruz com a textura dos tijolos de barro, na parede da capela, simboliza Jesus, mas não como santidade e sim como o homem, de aspectos e indícios físicos de sua existência.


Nicolás Campodonico

É neste espaço vazio, onde não há volumes geométricos, aliado ao ciclo solar, que o simbolismo do sagrado se faz presente e comunica ao usuário um conjunto de sensações. E então constrói um sentido além da matéria.


Nicolás Campodonico

Toda obra de arquitetura sempre tem algo a mais para apresentar, e é necessário a busca por este algo, a análise do resultado das sensações que o indivíduo absorve pode ser um dos métodos de percepção do discurso de arquitetura.



Referência:

http://www.archdaily.com.br/br/788464/capela-san-bernardo-nicolas-campodonico


 
 
 

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