Intervenções e Identidade Urbana: A manifestação artística como mecanismo gerador da identidade urba

A cidade, seus usuários e o lugar. A relação harmoniosa entre esses três componentes denota o núcleo da estrutura urbana, a qual exige uma compreensão assídua da diferença entre espaço e lugar. O primeiro se define por suas dimensões, sua funcionalidade, seus parâmetros, sua inserção na cidade. Para que o espaço seja considerado lugar, ele deve ter condições de escolha. Uma escolha por alguém como espaço preferencial. Tem-se, portanto, o lugar definido como um local escolhido por um indivíduo, uma tribo ou uma comunidade. Desta forma, ele sempre será um ponto de encontro, ou seja, um espaço que sedia um encontro.

O espaço urbano é uma compilação de visões, pensamentos e encontros. Uma confluência de organismos atuantes na construção da identidade urbana. Para alcançá-la,é de suma importância que haja a experiência individual de cada usuário inserido no meio e no cenário social onde ele atua, revelando a percepção e as emoções de cada indivíduo sem as quais o saber intuitivo não intervém. Em outras palavras, faz-se necessário a atenuação do contato humano com o meio o qual se está inserido.

É nesse contexto que surge a inserção de intervenções como as do artista ChristoGuelov, responsável pelo projeto FunnyCross. O projeto consiste em disseminar uma série de pequenas obras de arte em meio às faixas de pedestres, em Madri. Segundo a matéria publicada no Portal Vírgula, o artista búlgaro conta que o propósito é a investigação de algo que passa despercebido,trazendo-o para uma presença real como mecanismo para gerar utilidade aos objetos de arte. Além disso, Guelov visa chamar a atenção das pessoas para que olhem o mundo ao redor. “Abrir novos horizontes para a experiência humana tem sido a principal fonte de energia criativa, tanto na ciência quanto na arte”, diz o artista. As cores fortes e as composições geométricas da intervenção emergem como uma linguagem estética quecombina conceitos de arte, funcionalidade e planejamento urbano, instigando uma experiência sensorial singular, sem romper a relação entre meio e usuário.

As intervenções remontam a necessidade de se recriar um ambienteque passe a ser percebido e que estabeleça comunicação com a sociedade. Um diálogo que instigue a inter-relação entre cidade e individuo sem segregar, mas que inclua e integre, afinal, omeio ambiente é a dimensão física do planejamento urbano, não sendo conveniente a separação entre seus organismos, seja na criação e modificação do espaço como nas experiências empíricas de seus usuários. O carácter surpreendente dessas manifestações artísticas se constitui como uma expressão individual ou coletiva, cuja premissa se dá no uso na criatividade acerca do papel da arte na relação entre o sujeito e o coletivo.

Assim, para o indivíduo, o lugar se transforma em um espaço singular, definido por ele mesmo como seu espaço, sua comunidade, sua cidade, os quais passam de mera aglomeração humana em uma área circunscrita para um leque com amplo significado, ganhando diversidade de movimentos e possibilidades que conferem uma identidade própria ao espaço urbano.

Referências:

http://christo-guelov.net

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