La Nuvola e il Duce
- Prof° Rafael Rodrigues de Moraes
- 22 de mar. de 2017
- 2 min de leitura
A revista AU – Arquitetura e Urbanismo, de janeiro de 2017, apresenta o complexo do Novo Centro de Convenções de Roma, do Studio Fuskas, sob forte influência da arquitetura racionalista da década de 1930, conforme descrito neste artigo. O importante talvez seja ressaltar que “La Nuvola” (“A Nuvem” - o apelido da edificação) esteja localizado no sul de Roma, justamente no distrito de EUR. Inicialmente denominada de E42 (exposição de 1942), depois denominado de EUR – “Esposizione Universale Roma” ou “Exposição Universal de Roma” foi a máxima materialização da arquitetura racionalista italiana, sob forte influência da ideologia fascista, pois este era o regime político vigente na Itália antes do termino da 2ªgrande Guerra. É um complexo urbanístico, planejado para celebrar o vigésimo aniversário da Marcha sobre Roma e da tomada do poder pelo fascismo
O Racionalismo italiano (1926-43) propõe a forma racional, seguindo preceitos do classicismo italiano e da lógica estrutural, em claro resgate ao espírito clássico. Em 1927 é formado o Grupo 7 com os Arquitetos: Giuseppe Terragni, Sebastiano Larco, Guido Frette, Carlo Enrico Rava, Adalberto Libera Luigi Figini e Gino Pollini. Em 1928 é realizado a 1ª Exposição de Arquitetura Racionalista, que inspira a criação do Movimento Italiano para a Arquitetura Racional – o MIAR. Até então o movimento era repudiado pela União Nacional dos Arquitectos, encabeçada por Marcello Piacentini e apoiado por Pietro Maria Bardi (sim, marido de Lina). Bardi defendia que o racionalismo italiano da forma proposta pelo MIAR era o único capaz de representar a ideologia fascista, enquanto que Piacentini buscava raízes mais profundas no classicismo, como representação da política feita por Mussolini. Ou seja, neste momento há uma “briga” pelas ideologias do racionalismo italiano e quem representava melhor Musolini, “il duce”. Pouco depois o MIAR é desfeito e Piacentini (aproveitando a oportunidade) estabelece o Stile Littorio como ideal fascista. Os arquitetos autodeclarados racionalistas se identificam com este movimento, como Gio Ponti, Giuseppe Pagano, Giuseppe Terragni e tantos outros. O projeto do E42 foi apresentado em 1938, sob direção de Marcello Piacentini, conforme a ideologia fascista e elementos do racionalismo italiano e foi devidamente finalizado somente na década de 1960.
Um crítico de arte italiano, recentemente escreveu: “os arquitetos e artistas da época do fascismo compartilharam ideias políticas então existentes, e ainda não foram perdoados mesmo que tenham se passado 72 anos!”. Negar o papel destes arquitetos é negar parte importante de nossa história. Escrever a história somente da ótica de um dos lados é esquecer-se de boa parte de tudo. Não se pode contar a história através de sua própria ideologia. Ora é inegável a influência de Piacentini no panorama da construção da arquitetura modernista; e suas influencias vão além da Itália, chegando aqui mesmo, no Brasil: Ed. Conde Matarazzo, Villa Matarazzo, Universidade do Brasil e mesmo as “indas e vindas” com Capanema quase mudando a história da arquitetura moderna brasileira.
Rever os preceitos e influências da arquitetura racionalista, sem discussões políticas, se faz necessário e a oportunidade proposta por Massimiliano e Doriana Fuksas é oportuna e um ótimo exemplo.
Referências:
http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/274/criado-pelo-studio-fuksas-complexo-monumental-la-nuvola-em-roma-377129-1.aspx
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000069814&fd=y
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Palazzo_della_civilt%C3%A0_del_lavoro_(EUR,_Rome)_(5904657870).jpg> acessado em 27/02/2017
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